Sonegação: a sujeira embaixo do tapete

Alguns falam que é culpa do nosso jeitinho brasileiro, outros dizem que é a falta de ética que está enraizada no Brasil. Independente da causa, o fato continua o mesmo: as empresas sonegam.

Ano atrás de ano, acreditando que isso não afetará no desenvolvimento do negócio, as empresas alteram relatórios, pagam funcionários por fora e por aí a lista vai. Você sabe aquela história de varrer a poeira para debaixo do tapete? Tudo parece limpo, mas você, além de algumas pessoas, sabem que embaixo daquele lindo tapete existe uma camada não tão limpa assim. E de uma coisa temos certeza: um dia alguém vai levantar o seu tapete.

Apesar de termos mais mecanismos de cruzamentos de informações em comparação há alguns anos, como os SPEDs (sistema público de escrituração digital), a sonegação ainda é muito presente no meio empresarial, mesmo com os diversos riscos que ela representa ao bom andamento da organização, conforme notícias divulgadas pela imprensa.

De acordo com a Carta Capital online, deixa-se de recolher 500 bilhões de reais por ano aos cofres públicos no Brasil, calcula o presidente do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional, Heráclio Camargo. E o que isso tem a ver com as empresas? Ora, em diversas situações, o empresário sequer tem noção de todos os custos que arca ao sonegar. Logo, acaba aceitando isso como regra de mercado, sem verificar quais os reais diferenciais dele para se estabelecer no mercado e ser competitivo.

Custo de Gestão
De início, um dos principais problemas da sonegação é o custo para gestão. Isso acontece porque, com essa prática, o empresário não tem como saber o exato lucro de sua empresa. Como consequência disso, ele tem muita dificuldade em emitir relatórios para verificar resultados, já que várias vendas foram realizadas sem nota ou com meia nota.

Para a gestão é uma confusão enorme. Afinal, para saber seu real faturamento, o sonegador teria de somar as vendas com notas fiscais e as feitas sem notas, o que significa que precisaria ter muitos controles auxiliares para conseguir ver seu rendimento.

Quando há sonegação, o relatório da contabilidade é totalmente deformado e o valor que a empresa tem em estoque não expressa a realidade, assim como as contas de caixa e de faturamento, as quais também são registradas de forma distorcida. Com isso, o gestor acaba por nem olhar para a contabilidade, pois ela não traz informações do dia a dia da empresa em razão das adulterações.

Dificuldades na expansão da empresa
Ainda nesse jogo da sonegação, há dificuldade de ampliação do negócio e da abertura de filiais, pois a precariedade dos controles da empresa e o risco de desequilíbrio podem ocasionar desvios de recursos. Dessa forma, fica praticamente inviável realizar uma auditoria interna na companhia.

Além disso, há perigo de perda de benefícios fiscais, como o Simples Nacional, entre muitos outros. E para piorar a situação, empresas que sonegam acabam por ter uma dependência muito grande do sigilo dos envolvidos, como ex-sócios, fornecedores, funcionários etc.

Têm de ser contabilizados ainda os altos custos com processos trabalhistas. O sonegador também é aquele que paga parte do salário do funcionário na carteira e o restante por fora, o que quer dizer que praticamente todos os empregados terão condições de solicitar seus direitos na justiça.

Dificuldades no Planejamento & Formação de Time
Outra questão importante quando falamos sobre sonegação é a dificuldade do empresário realizar planejamento em longo prazo. Se a empresa é pega por uma fiscalização, o planejamento que tinha programado irá por água abaixo, ocorrendo muitas vezes a inviabilização da continuidade do negócio. Também pode acontecer do fluxo de caixa ficar negativo, devido às altas parcelas dos impostos sonegados.

Além disso, o gestor também terá problemas para encontrar e manter bons profissionais. Isso, pelo fato dos competentes especialistas normalmente não aceitarem pagamento por fora da carteira por muito tempo. Isso tudo fora o risco de perder o patrimônio pessoal, pois numa eventual fiscalização, o empresário pode vir a perder tudo na justiça. Outro risco hoje é a perda de credibilidade da imagem da companhia, que pode ficar bastante comprometida, caso ela seja alvo de uma fiscalização.

Resumindo, a sonegação traz:

Problemas com a gestão e dificuldades em emitir relatórios, principalmente quando esses são ligados ao faturamento da empresa;
Desvios de recursos, fator que interfere diretamente no crescimento da sua empresa;
Aumento de gastos com processos trabalhistas;
Dificuldades em montar um time qualificado;
Dificuldades de elaborar planejamentos a longo prazo.
Por tudo isso, evidencio que é difícil encontrarmos empresas de grande e médio portes com altos índices de sonegação por muitos anos. A tendência é que essas companhias acabem fechando ou sendo compradas por organizações de confiança que já estão no mercado.

Autor: João Batista Custódio Duarte

Contador, formado pela UFRGS e com MBA Executivo Internacional pela ESPM. Atuou como gerente de Vendas e MKT na AMBEV, Gerente de Contas PJ – Banco Real (atual Santander), além de ser Diretor do SESCON – RS – Sindicato dos Escritórios de Contabilidade do RS. Atualmente é sócio e Diretor Operacional da Fortus Consultoria Contábil, em Porto Alegre.

Sonegação: a sujeira embaixo do tapete